Sunday, December 23, 2007

HISTORIETAS DE SEGUNDA-FEIRA 56


O peru

Alexandre não tinha energia elétrica e nem tampouco água boa de beber na fazenda. A luz era de lamparina e a água era apanhada em uma cacimba no rio, bem longe. Ele e sua mulher junto com os filhos e uma neta moravam bem perto de onde passava a rede elétrica, mas nunca conseguiram um pistolão bom para puxar os fios. Sem luz, como diziam, não tinham uma geladeira, uma televisão ou outras utilidades nem percebidas. Quando precisavam de carne eles tinham que matar um bode, um peru, galinha, ou capote, isso poucas horas antes da refeição. Se demorasse a ser usada a carne estragava. Um bode pesava mais ou menos vinte quilos e, portanto a carne na certa iria estragar se os convidados para a ceia do Natal não aparecessem. No dia mesmo a família debatia esse assunto no alpendre e os animais até parece que sabiam do que se tratava, pois ciscavam nervosos no terreiro debaixo da tamarineira.

Quando eles desistiram do bode passaram a examinar a possibilidade de um dos perus brancos, de doze quilos ser o candidato para a ceia, o que já era tradicional. Mal Alexandre pronunciou a palavra peru o dito-cujo que estava mais próximo passou a ciscar mais nervosamente e ainda começou um gluglu estridente. Até parece que ele adivinhava o que estava para vir.

Eles decidiram mesmo pelo belo animal, pois assim poderiam convidar seu novo amigo, o Seu Chiquinho, que viria da cidade junto com a Silmara no carro do Martiniano.

Quando o José, o filho mais velho, desceu para o terreiro com sua faca amolada e um prato de ágate para aparar o sangue o peru virou-se para ele e, agitando as asas e movimentando violentamente o rabo, num grasnido que se fez compreendido por todos disse:

- Espera José, sinto que ainda não chegou minha hora! Será que você não pode me trocar por aquelas duas galinhas caipiras que estão ciscando ali perto do curral?

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