Monday, June 30, 2014

O BODE E O JUMENTO - HISTORIETAS DE SEGUNDA-FEIRA 377


A fim de traçarem planos para o desenvolvimento da região estava reunida, no auditório,  com o coronel maior a fina flor da politicagem local . O prefeito da cidade pediu a palavra e falou:

- Eu sou da terra do bode e apresento nossas reivindicações, as dele e as nossas, para que sua presença seja mantida e seu leite, isto é, o das cabras, e sua carne, agora dos dois, sejam cada vez mais aproveitados. 

Houve palmas seguidas pelo pedido do prefeito da cidade vizinha que queria se manifestar. A contragosto o coronel concedeu-lhe a palavra e ele falou:

- Eu sou da terra do jumento e peço, a todo custo, que se proíba sua extinção pelos atropelamentos diários nas estradas. Os coitadinhos têm que competir com os ônibus e as vans no transporte intermunicipal e não são respeitados. Além do mais, peço também que seja proibido o uso do nome jegue que se  da ao nosso querido jumento em outras partes da nação.

Mais palmas foram ouvidas.  O coronel virou-se para sua secretária de assuntos gerais e pediu socorro. A dama séria falou:

- Os bodes e os seus irmãos jumentos são importantíssimos e fazem parte da cadeia produtiva em muitos dos pequenos municípios deste Estado. Certamente o governo vai desenvolver ações para estabelecer um plano que ajude e contemple as reivindicações dos nossos amigos prefeitos. Podemos até criar um slogan: “O bode dá carne e o jegue transporta”.

Ouviu-se um coro de: “Jegue não, jegue não...) #historietas #jegue #jumento #cabra


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Thursday, June 26, 2014

CÁLCULO INTEGRAL


O professor dava aula de Cálculo e daí o Carlos Ribeiro, aluno aplicado e bem-comportado, levanta a mão pedindo para falar. O professor faz sinal de positivo e o rapazote levanta-se e pergunta:
- Professor Wesley eu queria saber para onde essa matéria vai levar a gente.
- Como assim Carlos?
- O Senhor só fala em abstrações matemáticas...
- Meu jovem o estudo do Cálculo é muito importante até mesmo para as Ciências Sociais.
- Mas eu acho que o Senhor dá esse cálculo sem fim e sem graça e esquece os problemas que afligem os milhões que não têm o que comer e nem onde morar. Não seria bom que a gente fizesse uma visita de campo a um desses locais ocupados por pessoas necessitadas, aqui perto mesmo, para avaliarmos, talvez até calcularmos, as condições precárias em que vivem as pessoas de lá?
- Carlos Ribeiro, é esse o seu nome, não é? Você é filho do sócio majoritário da Imobiliária RBS, não?
- Sim professor.
- Pois eu me proponho acompanhar vocês até esse local se você se comprometer a doar um terreno, dos muitos que seu pai deve ter, para que se construa uma vila para abrigar essas pessoas. Que tal?

Carlos Ribeiro sentou-se e não mais interrompeu a aula de Cálculo Integral do Professor Wesley.

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Monday, June 23, 2014

A COISA TA PRETA- HISTORIETAS DE SEGUNDA-FEIRA 376

No tempo da Guerra todo mundo se interessava pelo que passava no "teatro de operações." Era nos campos do Velho Continente que se travavam as mais ferozes e decisivas batalhas entre aliados e adversários fascistas. Aqui se viviam tempos de insegurança e apreensão, pois ataques de comandos nazistas eram temidos por todo o litoral. Certo dia espalhou-se a notícia de que o Primeiro Ministro Churchill faria um importante discurso no Parlamento sobre o desenrolar da Guerra. Dizia-se também, infelizmente, que o discurso do grande homem não seria traduzido. E agora?  Temos que achar alguém que faça a tradução simultânea ou, na pior das hipóteses, faça um resumo ao final. Todos do grupo "Amigos da Democracia", comandados pelo Zé Maria, concordaram e logo chegaram ao nome do Professor Ernesto César para fazer o trabalho. Ele tinha um rádio de ondas curtas instalado em sua sala de visitas e isso facilitaria a empreitada.  Depois de muita conversa o Professor concordou em participar da reunião e fazer a tradução simultânea do discurso do grande estadista. No dia aprazado cerca de vinte democratas reuniram-se na sala do Professor em frente ao "capelinha" da Phillips esperando o discurso. O Professor César sentou-se em um banquinho bem ao lado do rádio quando a transmissão começou. Por entre os chiados e outros ruídos saídos do radinho nada mais se conseguia entender da fala de Churchill. No entanto, nada estava perdido, pois certamente o Professor César lhes esclareceria tudo ao final. Após quarenta minutos cessa a transmissão ultramarina e o ilustre professor volta o rosto para a plateia ansiosa e diz:
- Meus amigos o "homem" disse que a coisa ta preta!



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Thursday, June 19, 2014

OLHO GRANDE E VERMELHO


O relógio da igrejinha ao lado ainda não tinha batido as doze pancadas quando ele foi deitar. Só depois de ver se as portas estavam trancadas de verdade é que ele deitou-se mesmo. Fernando tinha muito cuidado, pois as portas de sua casa estavam caindo aos pedaços devido aos cupins e também não tinham resistência nenhuma a ataques por pessoas mal intencionadas.  Fernando dormiu e logo acordou com o barulho de alguém forçando a porta bem ao lado de sua cama. Através de uma fenda na porta onde ficava antiga fechadura ele viu que alguém o olhava com um olho enorme, vermelho. O moço deu um grande grito que acordou sua mulher ainda costurando na sala da frente. Ela veio e Fernando lhe disse:
- Olha mulher vamos ter de trocar essas portas, pois elas não têm nenhuma segurança. Ele foi deitar-se novamente e logo dormiu. Um pouco depois viu o mesmo olho olhando para ele; era o olho de uma antiga empregada deles. Na certa ela queria fazer um susto ou mesmo entrar na casa arrombando a porta ao lado de sua cama. Novamente Fernando gritou e disse:
- Mulher traz a pistola! Não, traz logo o fuzil que já tem bala na agulha!  Sua mulher acordou com o enorme grito e chegou pra ele dizendo:
- Toma esse copo de leite e bebe que você dorme logo.



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Monday, June 16, 2014

VELHINHAS E SUAS VELINHAS - HISTORIETAS DE SEGUNDA-FEIRA 375



Nenhuma de suas amigas velhinhas  presentes queria soprar as muitas (quase cem) velinhas de seu bolo de aniversário. Umas porque tinham receio de lançar suas dentaduras sobre o glacê branco e as próprias velinhas provocando um apagão passageiro, antes da hora, mas certamente constrangedor. Outras temiam lançar perdigotos sobre o belo bolo e talvez contaminar a delícia com animálculos residentes em suas bocas e demais vias aéreas. Eis que uma delas, afoitamente, assume o sopro, o sopro da partida, ou como algumas disseram o sopro do final. Todo mundo vê o esforço que ela faz e o temor que apresenta em seu rosto escavado ao preparar-se para isso. Por fim o sopro final e a escuridão total para a aniversariante que tem nictofobia (condição atestada por seu psiquiatra).

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Monday, June 09, 2014

HORIZONTE PRÓXIMO - HISTORIETAS DE SEGUNDA-FEIRA 374


Esta estava sendo uma caminhada interminável para Azam, o filho mais novo da família Issui. Mas, após ter galgado muitos montes e descido muitas colinas repletas de obstáculos, alguns quase intransponíveis, ele encontrou-se em uma planície, aparentemente quieta. Azam conseguia ver adiante um rio correndo vagarosamente. Para esse rio ele se encaminhou e, após pouco tempo, encontrou um local tranquilo às suas margens. Sentou-se, pôs o cajado de lado  e comeu alguma coisa tirada da sacola. Após algum tempo cruzou o rio e logo retomou incansável, sua marcha. Encontrou ainda, pela frente, outros obstáculos difíceis de transpor, mas ele os encarou com tranquilidade. Azam venceu grandes distâncias e, finalmente, encontrou um local calmo à borda de uma floresta. Aí ele fez, novamente, uma parada e conseguiu repousar dormindo sem cuidados. Seguindo viagem novamente, ao fim de algum tempo, ele se deparou com outra planície sem qualquer sinal de atividade. Fitando o horizonte Azam não conseguia ver os limites dessa planície. Aí ele permaneceu por muito tempo esperando algum sinal que lhe indicasse ter sua caminhada chegado ao fim. A espera foi longa, mas não poderia ser interminável, ele sabia.



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Thursday, June 05, 2014

NIM, A TERRÍVEL AGRESSORA

Ao examinar manuscritos deixados pelo Professor Dr. Wolfram Ricardo, antigo pesquisador do Instituto Tecnológico de Irautçuba, o também pesquisador Dr. Stefan Gotschein descobriu anotações feitas por ele sobre o cultivo do nim. Esses manuscritos, anotados em forma de diários, foram iniciados em abril de 2020. Nessa época o Professor Ricardo era considerado um dos maiores conhecedores do nim, de seus usos e de seu comportamento frente a diferentes ecossistemas. Já nessa época sabia-se que o nim era uma violenta invasora de ecossistemas frágeis. Tendo observado relatos enviados do campo e também feito observações próprias, o Professor Ricardo fez recomendações sobre o poderoso potencial de destruição do nim. Ele enviou essas recomendações para o Ministério da Agricultura, para o de Ciências, para o de Ecologia, para o da Saúde, para o de Assuntos Teológicos, enfim para todo o Gabinete (na época havia somente dez ministérios). As recomendações feitas pelo Professor Ricardo resumiam-se em um alerta: Se não erradicarmos o nim da Região haverá destruição de toda a vida num raio de dez quilômetros a partir de todo e qualquer exemplar dessa árvore. Por muitos anos o professor reiterou essas recomendações, mas nada se fez como é de costume no país da jabuticaba e do caju. Passados aproximadamente vinte anos dessa iniciativa os meios de comunicação, como jornais, revistas e noticiosos da TV e da web, começaram a publicar notícias sobre o abandono de fazendas, povoados e pequenas cidades, atribuído à presença de exemplares dessa árvore. Foi por volta de 2045 que se começou a notar a morte de gado bovino e caprino, porcino, asinino, muar, aves tipo galinhas e perus e outros animais pequenos. O desparecimento ou mesmo a morte, de humanos foi registrada já em 2060. É bom salientar que o Professor Gotschein e colegas descobriram os manuscritos do Dr. Ricardo em 2040; o cientista nada havia publicado sobre o assunto; somente estavam relativamente accessíveis seus relatórios detalhados. No recenseamento de 2080, feito a duras penas, pois pessoal para fazer a coleta de dados não foi facilmente encontrado, o resultado foi assustador. Os poucos recenseadores mostraram que 95% da população humana do Estado, comparando-se ao ano de 2010, haviam desaparecido. Lutavam por sua sobrevivência em meio às terríveis secas e ao agressor Azadirachta indica cerca de 45000 pessoas vivendo no alto das serras, ainda livres do terrível invasor agressivo.
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Sunday, June 01, 2014

O SISTEMA ESTÁ CAINDO - HISTORIETAS DE SEGUNDA-FEIRA 373



O Sistema caiu!  Como?  Como caiu? Porque caiu? Essa era a pergunta que corria a cidade e o próprio país, de norte a sul. Nada se sabia sobre as razões pelas quais o Sistema havia caído. Alguns, menos afoitos, diziam ingenuamente que ele não havia caído, mas estava em perigo. E que um bom número de "hackers" estava sendo contratado para impedir a queda final. O fato é que aqueles que diziam ter o Sistema caído já comemoravam sua queda; os que tinham dúvida sobre isso rezavam e os que auxiliavam os "hackers" contratados para sustar sua queda comemoravam os pequenos sucessos obtidos.

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